Mal se iniciaram as primeiras operações militares na Europa já em
Portugal se tinham dividido as opiniões sobre a entrada na guerra. E logo se
chamaram de “Guerristas” os que dela fizeram a apologia, invocando a
necessidade do País assumir uma posição beligerante e de “Antiguerristas” os
que se lhe opunham. Curiosamente, colou-se a estes últimos um outro labéu:
germanófilos. E sê-lo-iam? Para dar uma resposta em consciência e apoiada em
informação fidedigna, devo dizer que poucos, muito poucos — embora muito
activos — deveriam ser aqueles que, na realidade, desejavam a vitória da
Alemanha. Nestes podemos contar os monárquicos simpatizantes e apoiantes da
causa dos descendentes de D. Miguel I.
Então quem eram os “Antiguerristas”?
Antes de se colarem rótulos, sou de opinião que devemos aceitar aqueles
que a si mesmo como tal se identificavam e, nesse domínio, só a corrente
anarco-sindicalista, e nem toda, se declarava contra a guerra. Os restantes
eram “Antiguerristas”, porque recusavam o envolvimento de Portugal na frente
ocidental, onde já lutavam as forças militares britânicas.
Há, neste tempo de comemoração de centenário, quem venha branquear os
“Antiguerristas” querendo-os separar em dois grupos: os que, de todo em todo,
recusavam a beligerância e os que a aceitavam em África, defendendo as colónias
nacionais que faziam fronteira com as que eram de posse alemã.
Quanto a mim, trata-se de tentar enganar a interpretação correcta que se
deve fazer da situação. De facto, toda a gente sabia que os destinos dos
territórios coloniais portugueses seriam discutidos se o Governo de Lisboa não
marcasse presença onde era importante e imprescindível fazê-lo: na frente
operacional europeia! Nas trincheiras do Ocidente. Todos os restantes teatros
de operações eram secundários em relação a esse que colocava em risco a
sobrevivência da França e da Bélgica. Era a vitória ou a derrota na Europa quem
ditaria destinos no resto do mundo. E disto toda a gente ilustrada e informada
começou a aperceber-se ainda no ano de 1914, quando as frentes se imobilizaram
e a guerra de movimento deu lugar a uma guerra de sítio onde os cercados também
cercavam.
Brito Camacho, o líder dos Unionistas, o mais conservador dos partidos
republicanos, enchia a boca e as páginas do seu jornal, proclamando a vontade
de combater nas colónias, se tal fosse
preciso, para defender a integridade territorial portuguesa! E quem é que
pretendia enganar, já que sendo experiente na política não devia estar ele
mesmo enganado? Todos os que, por comodidade ou poltronaria, desejavam afastar
a possibilidade de combater em França, colocando a vaga hipótese de alguma vez
a Alemanha, por causa de ocupar as colónias nacionais, declarar guerra a
Portugal e as invadir! Ora, vão mangar com outros, porque debaixo da roupagem
do medo, deixando um grande rabo de fora, estavam estes “Antiguerristas”, que
alguns historiadores de agora querem desprender do rótulo, que muito bem lhes
foi preso nas costas e nas frentes das casacas então ainda em uso!
São disfarces para poderem julgar e atacar
a causa dos “Guerristas” que, estrenuamente, perceberam os intrincados laços de
uma política externa nacional que manietava a jovem República portuguesa. Eles
sabem, mas escolhem, um atrás de outro, os argumentos que coloquem,
historicamente, em má posição todos quantos tomaram o novo regime político como
único motor capaz de romper com o conservadorismo comodista que campeava em
Portugal havia já, então, mais de três dezenas de anos.
Tenhamos a coragem de explicar, de verdade, a verdade da situação
nacional.
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ResponderExcluirE fez muito bem! Obrigado.
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