segunda-feira, 16 de março de 2015

“Guerristas” e “Antiguerristas”


Mal se iniciaram as primeiras operações militares na Europa já em Portugal se tinham dividido as opiniões sobre a entrada na guerra. E logo se chamaram de “Guerristas” os que dela fizeram a apologia, invocando a necessidade do País assumir uma posição beligerante e de “Antiguerristas” os que se lhe opunham. Curiosamente, colou-se a estes últimos um outro labéu: germanófilos. E sê-lo-iam? Para dar uma resposta em consciência e apoiada em informação fidedigna, devo dizer que poucos, muito poucos — embora muito activos — deveriam ser aqueles que, na realidade, desejavam a vitória da Alemanha. Nestes podemos contar os monárquicos simpatizantes e apoiantes da causa dos descendentes de D. Miguel I.
Então quem eram os “Antiguerristas”?
Antes de se colarem rótulos, sou de opinião que devemos aceitar aqueles que a si mesmo como tal se identificavam e, nesse domínio, só a corrente anarco-sindicalista, e nem toda, se declarava contra a guerra. Os restantes eram “Antiguerristas”, porque recusavam o envolvimento de Portugal na frente ocidental, onde já lutavam as forças militares britânicas.

Há, neste tempo de comemoração de centenário, quem venha branquear os “Antiguerristas” querendo-os separar em dois grupos: os que, de todo em todo, recusavam a beligerância e os que a aceitavam em África, defendendo as colónias nacionais que faziam fronteira com as que eram de posse alemã.
Quanto a mim, trata-se de tentar enganar a interpretação correcta que se deve fazer da situação. De facto, toda a gente sabia que os destinos dos territórios coloniais portugueses seriam discutidos se o Governo de Lisboa não marcasse presença onde era importante e imprescindível fazê-lo: na frente operacional europeia! Nas trincheiras do Ocidente. Todos os restantes teatros de operações eram secundários em relação a esse que colocava em risco a sobrevivência da França e da Bélgica. Era a vitória ou a derrota na Europa quem ditaria destinos no resto do mundo. E disto toda a gente ilustrada e informada começou a aperceber-se ainda no ano de 1914, quando as frentes se imobilizaram e a guerra de movimento deu lugar a uma guerra de sítio onde os cercados também cercavam.

Brito Camacho, o líder dos Unionistas, o mais conservador dos partidos republicanos, enchia a boca e as páginas do seu jornal, proclamando a vontade de combater nas colónias, se tal fosse preciso, para defender a integridade territorial portuguesa! E quem é que pretendia enganar, já que sendo experiente na política não devia estar ele mesmo enganado? Todos os que, por comodidade ou poltronaria, desejavam afastar a possibilidade de combater em França, colocando a vaga hipótese de alguma vez a Alemanha, por causa de ocupar as colónias nacionais, declarar guerra a Portugal e as invadir! Ora, vão mangar com outros, porque debaixo da roupagem do medo, deixando um grande rabo de fora, estavam estes “Antiguerristas”, que alguns historiadores de agora querem desprender do rótulo, que muito bem lhes foi preso nas costas e nas frentes das casacas então ainda em uso!
São disfarces para poderem julgar e atacar a causa dos “Guerristas” que, estrenuamente, perceberam os intrincados laços de uma política externa nacional que manietava a jovem República portuguesa. Eles sabem, mas escolhem, um atrás de outro, os argumentos que coloquem, historicamente, em má posição todos quantos tomaram o novo regime político como único motor capaz de romper com o conservadorismo comodista que campeava em Portugal havia já, então, mais de três dezenas de anos.

Tenhamos a coragem de explicar, de verdade, a verdade da situação nacional.

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