quinta-feira, 21 de abril de 2016

O CEP, imposição portuguesa


António José Telo continua a ser convidado para fazer comunicações em agremiações de âmbito científico e, parece, estende-se-lhe uma passadeira vermelha para que possa continuar a vender ou, às vezes, impingir, as suas interpretações sobre a beligerância nacional, na Grande Guerra. Ele impôs-se o direito e a obrigação de efectuar uma outra leitura dos acontecimentos de há cem anos, nem que para tal tenha de fazer afirmações que rondam a mentira e sempre a distorção dos factos. É o caso, logo no primeiro parágrafo do 7.º Erro, intitulado «Foi a Grã-Bretanha que pediu a formação do CEP», da comunicação, que venho comentando, levada a efeito no XXIII colóquio de História Militar, organizado pela Comissão Portuguesa de História Militar, que lhe deu uma tribuna privilegiada para perorar sobre Portugal e a Grande Guerra.

Diz assim o historiador Telo:
«A outra mentira da visão tradicional portuguesa é a de querer fazer acreditar que foi a GB que pediu a criação do CEP, donde se pode inferir que se houve algum erro de avaliação… ele foi britânico, por ter exigido demasiado.»
Isto é falso! Tão falso que são os factos a desmentir a afirmação. Basta pensar que a chamada Divisão de Instrução foi criada em Tancos ainda se mantinham conversações em Londres sobre a contribuição militar portuguesa no teatro de guerra europeu.
António José Telo, como é seu costume sobranceiro, tem feito tábua rasa das minhas afirmações em Do Intervencionismo ao Sidonismo, e tenta convencer-nos das suas razões. Eu disse-o, em 1990, — Portugal e a Primeira Grande Guerra. Os Objectivos Políticos e o Esboço da Estratégia Nacional. 1914 – 1916 — e reforcei em 2010: a beligerância nacional, bem como o envio do Corpo Expedicionário Português (CEP) para França resultaram de uma manobra diplomática portuguesa impositiva perante a Grã-Bretanha. E nem se compreendia que não fosse assim se se quisesse perceber que a beligerância visava um fim subtil: forçar a aceitação de Portugal como parceiro igual e não menor da Inglaterra no areópago das Nações. E é neste erro que António Telo continua a laborar e a induzir quem o lê e ouve, porque ele olha a beligerância portuguesa à luz dos interesses britânicos e não dos interesses nacionais. Ele é hoje um outro Brito Camacho ou um Machado Santos de há cem anos.

Quando tenta explicar o tal 7.º Erro, por falta de alternativa e porque factos são factos, Telo vê-se obrigado a referir o que realmente se passou, ou seja, uma manobra diplomática excelentemente executada por Afonso Costa, tendo tido, às vezes sem saber, o apoio da França. O ministro português, dito em linguagem pouco académica, encostou às cordas o Foreign Office e o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, ganhando a batalha diplomática que a si mesmo se havia imposto e imposto a Londres: fazer aceitar um contingente militar português no teatro de guerra europeu, único local onde não passaria despercebida a beligerância nacional e onde não poderia ser confundida com mera defesa de património colonial e, assim, apoucada aquando da conferência da paz.
Telo, com subtileza não isenta de maldade, confunde dois elementos que convém serem confundidos: a responsabilidade de Londres na redução da eficácia do CEP com a exigência demasiada da Grã-Bretanha!
Do que se culpa, e bem, a Inglaterra, é do facto de, em Setembro, depois de ter posto em França o CEP, ter cortado o transporte de mais tropas nacionais para França. Mas Telo quer desviar as atenções dos Portugueses de hoje dessa real, dessa verdadeira culpa britânica! E é culpa, porque foi esse o processo encontrado pela Inglaterra para liquidar a ofensiva diplomática portuguesa! Deixar morrer o CEP em França era, na perspectiva britânica, a forma de deixar bem relevante para a posteridade a teimosia e a incapacidade de Portugal! Claro que, com historiadores como António José Telo, o objectivo inglês de há cem anos é alcançado hoje! Claro que com papalvos que convidam o historiador António José Telo para bolsar veneno contra aqueles que, há cem anos, lutaram pela dignidade internacional de Portugal, os objectivos ingleses acabam sendo alcançados! Claro que, estejam onde estiverem, Afonso Costa, Norton de Matos, João Chagas, Roberto Baptista, Ferreira Martins e, até Ferreira do Amaral, para não citar Augusto de Casimiro ou, Jaime Cortesão, reviram-se dos pés para a cabeça ao saberem das explicações de António José Telo e jamais perdoarão a quem lhe dá tribuna para bolsar falsidades ou distorções sobre o que realmente se passou.

A verdade é que o CEP foi imposto aos britânicos, mas essa imposição teve em vista um valor mais alto que está malevolamente a ser esquecido por António José Telo, quando até o deposto rei D. Manuel II mandou que os monárquicos fossem beligerantes para defenderem o interesse nacional português! E isto Telo não o diz! Esconde, deturpa, escamoteia, para que a sua leitura dos acontecimentos possa ser aquela que prevalecerá nos próximos cem anos, confundindo os investigadores de 2116, que terão dificuldade em compreender quem afinal estava a dizer a verdade histórica.


António José Telo não faz história! Continua a fazer propaganda como a faziam os não intervencionistas de 1916!!!

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